domingo, 23 de maio de 2010

Bicondicional

(ou aquilo que vai e volta)


Cansei de tantas e tontas condições
mentiras para que outros acreditem
no que querem.
A elas não importam que é você.
Aliás,quem é você?


A não ser aquilo
que aceita e que condiciona suas
próprias intenções de nada ser
e de alguém tentar?


Sou aquilo que soma
e subtrai tantos medos suaves e loucos!
Mágoas e feridas abertas
são tudo que o homem precisa para ser.


E aí,nascem cerrações
e nuances em cada caminho
pois o que de nós pode ser tanto,
do mundo e dos outros,estradas:
os vários lados da alma se abrem.


E assim decidimos pela
bicondicionalidade da vida
ir e voltar infinitamente
no infinito particular de cada um.


Ana Raquel e Luciana Fascetti

Idades

Pensar o nós,o todo e todos,o ato,o voto,o fato,a fome,o choro,o sangue,o mundo e o agir engavetado no ópio da espera.
Humanidade,com que idade serás verdadeiramente humana?


Ana Raquel

Os Mexilhões

Esses mexilhões cotidianos a rondar
as expectativas inexatas
fundem-se partícula a partícula
e terminam por enveredar no mais completo
bater de asas de um pássaro cego.


E cada bater é como
aturdidas e sonoras lembranças
dos cinzas,das cinzas
que renascem e morrem
em mim.

Ana Raquel e Luciana Fascetti

Cinema Mudo

Pela janela do ônibus
vejo as pessoas sorrindo.
Procuro por entre elas
encontrar o rosto distante
aquele quadro renascentista
perdido num amontoado de expressões
figurado nas linhas do tempo.

O vácuo e o silêncio
fazem-me entender as alternativas impostas.



Fernando Hijjander Xavier

Valores

Ficamos presos,
intocáveis,
perdemos cedo,
ganhamos sombras,
dormimos tarde,
quebramos ondas
manchamos cores,
vestimos trapos,
pelo preço
do quanto
pra quando
em quando
até quando...
Quando?

Ana Raquel

Superficial

Massageando sonhos
desvendando incógnitas dos pingos da chuva.
Misteriosos e dispersos
raios de luz das ideias sem acentos
dos ideais sem cabimento
frases sem palavras
e palavras sem letras.


As moças disputam entre si
o calor dos opostos que lhes
vendem o desejo,
acaba-se a satisfação e permanece
a loucura da vida boêmia e sem sentido.


Lá do alto se escolhe
a miséria da solidão.
Esbanja-se figuras abstratas
das bolotas de nuvens,
E finaliza-se e fecha-se
a razão arrependida.




Rafaela Proença

Agramatical

O vento das palavras,
desconexo e sem ramos.
Não literário(averbal)

A língua burocrática,
bucólica,
conspiratória aos ignorantes
amável aos portugueses errados
a quem sofimentos
e consequências
são meros dados
lexicais.




Fernando Hijjander Xavier

sábado, 15 de maio de 2010

Canto Doce

Poesia publicada no jornal acadêmico O Elo das Letras

Me vi revivendo em dias sós
e meu Deus!Quanta mudez!
Calei a mim,calei a rima
sem saber que devagarinho,
me dizia a vida
em seus pequenos
e aleatórios pedaços
de canções e anedotas
que o que é doce
permanece
no canto da boca e na ponta dos dedos.


*E de tão tolos que somos,insistimos em sentir o sabor salgado das lágrimas nos lábios e enxergamos apenas a palma de nossa mão!



Ana Raquel

Segredos Sussurrados

Poesia publicada no jornal acadêmico O Elo das Letras


Ouço sussuros
Enlouquecedores
Intermitentes
Sufocados

Preciso mantê-los
Guardados,
Neles cabem
Segredos!

Dos mais ensandecidos,
E tenho medo
Do que podem fazer
Se forem soltos
Nesse não sei o quê
De sentimentos tão misturados
Aos dos outros.

Fatalmente
Felizmente
Displicentemente
O medo pode se contrair...

E aí!
Deixa vazar?
Ou não?


Luciana Fascetti

Distorção

Poesia publicada no jornal acadêmico O Elo das Letras


Assim como a boca que beija
Ao mesmo tempo o corpo anseia
Os sentimentos...os desejos.

Do coração as repreensões cardíacas
Os instintos refutáveis
Frágeis desafios rotineiros


A lua figura no céu
O branco que se perde no ínfimo
O breu e o seu constante delírio


A passividade e a fúria temporal
Na noite,a cronologia dos tempos remotos
O findar de pequenos acontecimentos.



Fernando Hijjander Xavier